A Síndrome da Mulher Maravilha.

Ilustração: Sandra Mara Selleste

Empreendedoras por natureza e formação, mulheres de todas as partes do mundo na atualidade estão salvando psico-fisicamente pessoas, resolvendo questões familiares, tendo filhos, fazendo o jantar, bordando, pintando, escrevendo livros, plantando árvores, abrindo empresas e esquecendo de si. A Síndrome da Mulher Maravilha gera a dificuldade do autocuidado.

O que é a Síndrome da Mulher Maravilha? Quem é esta mulher, digamos, “maravilha”?

Ela nasceu em 1941 para ser coadjuvante de super-heróis masculinos. Ou para pelo menos atenuar a falta de mulheres entre eles. Sim, a síndrome ao qual nos referimos neste texto, vem da ilustre figura de Diana Prince Rockwell Trevor, ou Princesa Diana das Amazonas de Themyscira, a Mulher Maravilha.

Trata-se de uma personagem fictícia do mundo americano das histórias em quadrinhos, que logo virou sensação mundial. Segundo uma das versões na mitologia criada para Diana, ela é filha de Hipólita, rainha das Amazonas. Foi esculpida do barro, ganhou vida e vários presentes dos Deuses. Uma versão mais recente do seu nascimento, afirma que Diana não era filha de pai desconhecido e sim filha de Zeus, o grande deus do Olimpo.

Após adulta, em um dia qualquer, pilotando seu Jato Invisível, Diana colidiu com o avião-caça do piloto americano Steve Trevor. Sobreviveram, conviveram e se apaixonaram.

Talvez para se livrar do pretenso genro, a rainha Hipolita criou um concurso entre as Amazonas. Entre outros prêmios, quem fosse a campeã das provas levaria o piloto de volta aos Estados Unidos. Diana, foi proibida pela mãe de competir. Mas com a proatividade e persistência de uma mulher, ela entrou na competição disfarçada. Não só desobedeceu, como também venceu. Enfim, são muitas versões incríveis dos desafios vividos pela guerreira.

A “biografia” de Diana aponta para uma criadora, a Sra Elizabeth Marston. Consta que a esposa de William Moulton Marston ao saber de sua propensão para criar outro personagem com superpoderes foi categórica e disse algo como: “Faça uma super-heroína!” Muito provavelmente o Sr. Marston apresentou a ideia ao seu parceiro Harry George Peter, sem discutir “a ordem” de Elizabeth. Acreditamos que a ação já caracteriza indícios de que as mulheres do período da segunda guerra jamais voltariam a ser submissas e aceitariam ser escondidas por detrás de representantes masculinos.

Por este motivo, como uma inferência, aqui neste texto iremos considerar que todas as invenções do Sr. Marston muito provavelmente tiveram o “pitaco, dedinho, narizinho arrebitado” da Sra Elizabeth. Declaramos, portanto, que nós autoras deste texto, estamos fazendo nada mais que justiça.

Fora da esfera do entretenimento, o psicólogo Marston e Elizabeth deixaram contribuições importantes sobre o comportamento de homens e mulheres. Além de criar super-heróis masculinos como Lanterna Verde, Batman, e Superman, também são criadores da Avaliação DISC, contida no livro “Emotions of Normal People”, de 1928, e hoje muito usada aqui no Brasil nos processos de Coaching. Ainda neste período havia o estudo sobre o polígrafo e o casal concluiu, em seus experimentos, que as mulheres quando comparadas aos homens são mais confiáveis e honestas, o que pressupunha a possibilidade de que as mulheres são superiores aos homens. Seriam estes experimentos provas de que as mulheres pelo próprio comportamento e habilidades adquiridas, estão mais preparadas nestas qualidades para o empreendedorismo?

De acordo com os relatos da própria História dos Quadrinhos, a Mulher Maravilha teve que lutar nestes 78 anos com vários tipos de opressão mercadológica. Durante e por todos os momentos históricos do pós-guerra e da segunda metade do século passado, como machismo, violência doméstica, criação da pílula anticoncepcional, rock and roll, divórcio, ditadura da magreza, aquecimento terrestre, globalização e internet… ufa!!

Hoje uma senhora idosa de quase 80 anos não entende bem como funcionam as mídias sociais e “como a nova geração prefere a Ladybug As Meninas Superpoderosas?!”

Brincadeiras a parte, sabemos que a Mulher Maravilha não envelhece, não se cansa e está sempre literalmente pronta — maquiada e penteada — para resolver tudo do alto da sua bota cano alto e salto 15 com elegância e bom humor. E é por isso que estudiosos da mulher contemporânea resolveram dar ao fenômeno atual pelo qual as mulheres estão passando — de querer fazer e resolver tudo ao mesmo tempo — de Síndrome da Mulher Maravilha. Uma forma de representar as angústias e dúvidas que o comportamento traz.

Ao pensar sobre este comportamento “mulher-maravilha”, tivemos a vontade de abordar: Qual o papel da mulher empreendedora neste contexto?

Durante algum tempo tivemos uma espécie de faixa limitadora imposta pelas convenções sociais ao desenvolvimento feminino no mercado de trabalho. Nas duas últimas décadas as mulheres derrubaram alguns pré-conceitos e reformularam o papel da mulher, impondo sua presença em altos cargos e como empreendedora.

Multidisciplinares e hábeis em lidar com o comportamento humano tornam-se cada vez mais empresárias competentes. A mulher vem ampliando seu protagonismo para desenvolver soluções para setores tradicionais. Como um croqui em rascunho a mulher empreendedora vem se construindo. Contudo algumas questões ainda ficam: “Ela está feliz? O que a sociedade quer? O que esta empreendedora quer?”

Por isso, vamos tratar aqui um recorte sobre o empreendedorismo feminino e sobre como a Síndrome da Mulher Maravilha está afetando nossas vidas.

“Sou Empreendedora Mulher-Maravilha… E agora?!”

O empreendedorismo feminino quase sempre traz para a mulher atual uma posição de provedora e protetora, não necessariamente nesta ordem, de todos que orbitam de alguma forma em seu raio de ação vital. Esta postura centralizada seria ótima se, ao analisarmos diariamente as empreendedoras com as quais trabalhamos, não identificássemos um traço comum a praticamente 100% delas. A capacidade de se anular em prol do cuidado e atenção aos outros. O autocuidado é negligenciado.

As dores e amores do empreendedorismo feminino ainda são pouco abordados em pesquisas. Quais são as armadilhas egóicas de ser uma Empreendedora Mulher-Maravilha? Até onde vivemos um “empreendedorismo-opressão”?

De repente, por oportunidade ou necessidade: Empreendedora. Correr atrás e desenvolver um sonho, uma realização, um propósito de vida e entregá-lo para o mundo em forma de um negócio. Um negócio que sempre tem uma história para contar, que carrega um motivo, um diferencial, um tempero a mais que o faz único, que o faz brilhar.

De repente, “empreendedora”: Mulher que corre, que corre para cuidar do filho, da saúde, da vida social, dos relacionamentos, da casa, da alimentação, da beleza, ser uma referência de sucesso, ter dinheiro como resultado e ( ainda! ) ter tempo para um cineminha ou, quem sabe, para desenvolver uma nova ideia…

Muitas vezes a luta e recorrente correria para o sucesso e realização de seu sonho e sua entrega para o mundo, deixa escondida uma mulher maravilhosa que na realidade é uma humana, uma mulher que precisa ser escutada como pessoa e não como empresária, que matou seu tempo de cuidar de si mesma para cuidar de um sonho e que, muitas vezes, quando tira o “escudo e a roupa especial” quer colo, cuidado, uma comida gostosa, fazer a unha e depilação.

Quais são os limites? Existem limites? Até quando realizar um sonho é deixar também de se ouvir, de se cuidar? Até que ponto as cobranças sociais do paradigma de sucesso e mulher “super-poderosa-que-dá-conta-de-tudo” alimentam essa visão que pode nos fazer simples mortais nos sentirmos um fracasso?

Cotidianamente vemos uma enxurrada de empreendedoras de sucesso que conseguiram atingir seus objetivos e enriquecer com fórmulas mágicas e ainda manter a beleza refletida em vídeos pelo Youtube ou Instagram. É tudo muito lindo e impactante, mas será que é igual para todo mundo? O que é o empreendedorismo das mulheres-maravilhas na vida real?

Sabemos que cada uma tem seu caminho e sua história. E uma fórmula milagrosa de internet não vai fazer sumirem os desafios encontrados no percurso. É importante se inspirar em pessoas e cases de sucesso que são próximos e se assemelham à realidade vivida. Estes nos mostram as suas essências, pois é possível trocar experiências e enxergar soluções, oportunidades e acessos alcançáveis.

Também é preciso parar e se cuidar, não deixar o sonho de lado, mas fazer de tudo uma construção responsável, para que nenhum pilar importante esteja a ponto de ruir e comprometer o todo. O pilar do corpo, o pilar da mente, o pilar do amor a si.

Por fim, seria a Síndrome de Mulher Maravilha, de forma mais profunda ainda, um recorte da servidão voluntária de La Boétie? No qual o efeito de “igualdade” diante da sociedade e, principalmente no mercado de trabalho, estaria sendo sustentado por uma realidade construída sobre a ideia coletiva de que todas as empreendedoras são super-mulheres, logo, necessitam realizar tarefas incansavelmente.

E sendo este o padrão a ser seguido não caberia a nenhuma mulher duvidar de si. Por que, a própria dúvida, já seria um sinal de “fraqueza não-empreendedora”?

E você, é uma mulher-maravilha empreendedora? Conhece alguma? Como está lidando com estas questões? Conta pra gente sua história, via nossas redes sociais. Sandra Mara Selleste e Julia Lopes

Referencias/Pesquisas:

1 — "Síndrome da mulher maravilha" Eu já tive. E você?Criada em um laboratório de psicologia por William Moulton Marston, a Mulher Maravilha veio ao mundo com o objetivo de…renataabreu.me
1.1 — Síndrome da Mulher Maravilha — conscius

2 –

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Sobre o Autor:

Texto escrito por Sandra Mara Selleste em parceria com a Julia Lopes.

Sandra Mara Selleste

Sou empreendedora na Selleste, Consultora no desenvolvimento de empreendedores para as Novas Economias, Fluxonomista4D, produtora cultural e atriz.

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