Série Round 6 – reprodução instagram Netflix Brasil
Série coreana que estreou há quase um mês já é a mais vista atualmente na Netflix. Psicóloga alerta sobre os impactos das cenas de violência, principalmente em crianças e adolescentes
Lançada em setembro, a série sul-coreana “Round 6” foi parar na lista de maiores sucessos da história da Netflix. Ela é ambientada num desafio mortal, onde os integrantes do jogo participam de brincadeiras infantis muito conhecidas, como bolinha de gude, cabo de guerra e ‘batatinha frita 1,2,3’. Quem não atinge o objetivo final, é assassinado. Isso tudo em troca de um prêmio bilionário.
Paralelamente ao sucesso, no entanto, a série tem causado polêmica e preocupa psicólogos, pois as cenas incluem torturas psicológicas, suicídio e violência explícita. A questão é como esse conteúdo é consumido e assimilado, principalmente por crianças e adolescentes, já que eles ainda não têm discernimento para entender que aquilo é 100% ficção. A psicóloga e psicoterapeuta Sabrina Matias explica que consumir esse excesso de violência retratada na série ou em outros filmes pode disparar gatilhos emocionais negativos, ou seja, crianças e adolescentes podem responder de forma mais exaltada ao que veem nas telas.
“Em crianças e adolescentes, o lobo frontal, onde racionalizamos, entendemos as informações, compreendemos, justificamos, ele ainda não está completamente maturado, ou seja, sua capacidade de discernimento e entendimento sobre as coisas não está completo. Então, se você sujeita uma criança a ver uma série ou um filme onde tem um impacto emocional muito grande, aquilo entra para o cérebro como se não tivesse um filtro, já que essa racionalidade não está formada. E a criança e adolescente não enxerga o teor daquilo tudo como um adulto enxerga. E nós não sabemos como ela vai absorver aquelas informações, que serão, inclusive, armazenadas no inconsciente de uma forma que não temos controle”, explica a especialista.
E o problema não termina aí. A psicóloga reforça que é comprovado que as decisões que tomamos partem de 90% a 95% do nosso inconsciente, ou seja, de referências que temos do exterior. “Então uma criança que armazena um filme daquele, que tipos de tomadas de decisão podem ser influenciadas a partir daquilo que ela viu? A gente não tem esse controle. Mas podemos ter controle a partir da evitação de uma criança ter acesso a uma violência como essa”, pontua.
É preciso que os pais prestem atenção ao que os filhos estão consumindo nas plataformas. A série Round 6, por exemplo, tem classificação indicativa de 16 anos, porém como muitas crianças têm livre acesso à internet sem supervisão, acabam vendo coisas impróprias para a idade. Se for preciso, restrinja a visualização por classificação etária para que a criança acesse apenas os conteúdos apropriados à sua idade.
Sabrina ainda alerta que muitos pais precisam parar de negligenciar isso, porque ‘não é só um filme’ como eles dizem’, ‘Não é dramatização’, ‘Não é besteira’. “O cérebro da criança e adolescente ainda não tem capacidade de filtrar as informações. E referências serão criadas a partir da infância. Então deixar entrar referências erradas na mente da criança, a maioria ela levará para a vida adulta. E é por isso, que muitos traumas dos adultos de hoje são visões erradas do passado, na infância, cenas, momentos que seu inconsciente guardou aquela informação e aquilo o persegue ao longo da vida”, finaliza Sabrina.
Colaboração: Danielle Ewald
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