Rodrigo Vervloet, presidente do Sindbares e Abrasel no ES (Foto: Cloves Louzada)
Enquanto alimentos e bebidas subiram 2,25%, resultado do setor é de apenas 0,28%
O IPCA-15 divulgado na última quarta-feira (27) mostrou um descolamento do preço praticado em bares e restaurantes em relação ao aumento da inflação. O item alimentação fora do domicílio teve aumento de 0,28%, índice muito abaixo da inflação geral, de 1,78% (maior índice para um mês de abril desde 1995). Quando comparado ao aumento de alimentos e bebidas, a diferença é ainda mais gritante. Os principais insumos dos estabelecimentos aumentaram em média 2,25%, quase dez vezes mais do que os preços dos cardápios.
Pressionados pelo baixo faturamento (segundo pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Abrasel – em fevereiro, 38% trabalharam no prejuízo), os estabelecimentos evitam repassar os aumentos nos cardápios, para não perder clientes. E, em alguns casos, chegam a baixar preços para tentar faturar no volume. No Rio de Janeiro, a diferença entre os índices é gritante. Enquanto o índice de inflação na capital fluminense foi de 2,11%, os bares e restaurantes tiveram deflação: -0,44%. Em São Paulo também houve deflação, com -0,05%. Entre as principais capitais, o maior aumento foi em Belo Horizonte, com 1,25% – mesmo assim, bem aquém da inflação geral.
“No Espírito Santo, a estratégia de segurar os preços é uma tendência natural do setor, sempre buscamos absorver o aumento de custo para não onerar o consumidor. De olho no futuro, nosso foco é no Dia das Mães, é um período muito importante e a expectativa é de um aumento de 30% no faturamento, se comparado com período pré-pandemia. Será o primeiro Dias das Mães com plenas atividades, depois de dois anos de pandemia e com muitas restrições”, destaca Rodrigo Vervloet, presidente do SindBares e da seccional capixaba da Abrasel.
Diante dos números do setor, o presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci, destaca que a estratégia de contenção dos preços põe pressão sobre os empresários do setor. “É um desafio adicional e mostra que o setor precisa de uma política pública específica de ajuda, pois não vem de hoje essa diferença. Nos últimos 12 meses, enquanto a inflação chegou a 12,03%, no nosso setor o índice foi de 6,51%, quase a metade”, aponta.
O índice de inflação ficou abaixo do esperado pelo mercado, mas mesmo assim é a maior variação mensal do indicador desde fevereiro de 2003 (quando registrou 2,19%), além de ser a maior variação para um mês de abril desde 1995 (1,95%). Para conter a inflação, o Banco Central dá indícios de novo aumento da taxa Selic na próxima semana. Isso traz ainda mais preocupação. “A Selic é o indexador de contratos de empréstimo, principalmente o Pronampe. A inadimplência do programa já é de 19% no nosso setor e tende a se aprofundar com o aumento da taxa de juros”, afirma Paulo Solmucci.