É preciso entender a neurose
Todo cidadão “normal” é neurótico, graças a neurose nos movimentamos para frente ou para trás. Porém é preciso entender o que é uma neurose.
Neurose é aquele sentimento ou sensação, ou hábito comportamental que sempre se manifesta e nos dá a impressão que estamos andando numa esteira, sem sair do lugar.
Quando um paciente chega ao processo de psicoterapia ou psicanálise, com um foco mais direcionado para tratamento de um transtorno ou sintomatologia e com o estabelecimento de um relacionamento de vínculo, transferência sem necessidade “curativa”, observo que ele quer eliminar sua neurose. A neurose é um elemento que fica “patinando” no comportamento, insistindo em permanecer, se manifestando cada vez mais, com mais intensidade. Com esta demanda informo aos pacientes que a neurose cresce e é cada vez mais alimentada, pois há o desejo de ela ser eliminada. No entanto, é uma tarefa impossível de ser realizada no tratamento.
A neurose permanecerá no sujeito e o melhor caminho é aprender a ficar amigo dela, olhar e identificar as trajetórias nas quais ela foi se instaurando na estrutura emocional ao longo dos anos, para compreender os motivos de sua existência e depois aprender a ver quando ela se manifesta, e não deixar que se sobressai no paciente.
Parece simples, mas tento orientar que a neurose é como um bichinho engaiolado no pensamento, que se tentarmos acabar com ela, confrontar ou negá-la, mais a estamos alimentando. A neurose tende a crescer, se fortalecer ainda mais acompanhada a outro elemento inerente a ela, o sentimento de culpa.
Quando o paciente ao se deparar com a manifestação de um comportamento indesejado e quer eliminá-lo, se culpa por não ter conseguido se antecipar e repete o ato. “Pintou” a culpa, a neurose cresce. Mas, quando o paciente aprende a entender os motivos na qual a neurose foi instaurada e quando se vê repetindo o comportamento indesejável, fica feliz por ter conseguido enxergar e consegue entender os motivos que colaborou para que ela aparecesse em um determinado momento. Ai sim, a neurose perde a força.
O caminho para alguém conseguir deixar a neurose sem alimento é longo. O caminho é deixá-la quietinha na gaiola do pensamento, fazendo com que ao longo dos anos a neurose se enfraqueça que não consegue ter forças para se manifestar. Assim, os sintomas indesejáveis podem ficar ocultos. Lembrando que este caminho é longo e necessita de bastante percepção interna. Um caminho de resgate do inconsciente.
Mesmo a pessoa conseguindo chegar neste patamar de auto-percepção, não poderá cair na tentação de que a neurose está eliminada. Quando a “tentação” surge, a neurose reacende com todo vigor. É sempre bom lembrar que ela está na gaiola, apenas frágil para agir, porque a estrutura psíquica está forte para deixá-la quietinha no seu canto, como acontece com o pássaro preto que vive muito tempo engaiolado. Quando seu dono abre a portinha da gaiola ele não deseja sair, ou, caso saia, não voa e fica perambulando pela casa. Assim é a neurose, estará sempre lá. Por isso que na psicanálise dizemos que o “sujeito normal” possui suas neuroses. Ou que a neurose é coisa dos “normais”.
*Gerson Abarca é Psicólogo psicoterapeuta graduado pela UNESP/SP – 1990. Escritor pela Ed. Paulus. Atua na cidade de Vitória em psicoterapia de base psicanalítica para crianças adolescentes e adultos. Mentor do site: abarcapsicologo.com.br. Mais informações no telefone (27) 99992-0428 e no endereço: Rua Eugênio Neto, 488 – Ed. Praia Office – Sala 1001, Praia do Canto ( Ao lado da Igreja Sta Rita).
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