A crise econômica e ausência da sensação de segurança no Brasil, são fatores que fazem com que mais brasileiros sonhem deixar sua terra natal, em busca de uma melhor qualidade de vida no exterior.
Entrevistamos três capixabas que falam sobre como é viver fora do Brasil. Cada uma em um país difrente: Irlanda, Portugal e Itália.
O passeio em Dublin trouxe a vontade de permanecer na cidade
A turismóloga Loraine Ferreira mora há sete anos fora do Brasil e conta que atuou durante cinco anos em uma agência de viagem, em Dublin, na Irlanda. Atualmente, se prepara para se formar na profissão de Técnico em Nutrição e Personal Trainer.
Loraine é uma mulher solteira e fala que os irlandeses são tímidos e fechados, porém receptivos e amigáveis. Além disso, diz que a barreira cultural pode ser um muro entre os casais formados por brasileiros e irlandeses, os quais precisam de tempo e dedicação para se ajustarem. O valor da família ainda é muito forte na sociedade Irlandesa e casamentos à moda antiga são bem comuns.
“Vim para a Irlanda a passeio e decidi permanecer aqui. Os problemas e costumes do Brasil me aborrecem e esses são alguns dos fatores que me levaram a permanecer na Irlanda. Os irlandeses são pessoas honestas e você percebe que é possível formar uma sociedade mais justa e ética. Isso me mantém no país, porque não tenho condição de estar no Brasil assistindo os telejornais com notícias de crimes e corrupção”.
Segundo Loraine, outro ponto positivo da Irlanda é a ausência de julgamento no que diz respeito às escolhas pessoais do indivíduo, como o tipo de roupa (marca e status), cor de cabelo, nível social, orientação sexual, entre outras. E, afirma que um trabalhador braçal e um executivo podem frequentar o mesmo ambiente, e roda de amigos e beberem a mesma cerveja.
Loraine descreve também que a condição econômica na Irlanda é um fator que atrai imigrantes, pois conforme esclarece, mesmo quem ganha o salário-mínimo consegue ter uma vida íntegra, viajar, ter lazer regularmente e administrar equilibradamente suas despesas mensais. “A matemática mostra que o saldo da qualidade de vida na Irlanda é bem melhor que no Brasil, devido aos fatores: poder ser quem eu sou, andar com segurança nas ruas, ter o que eu preciso materialmente, não ter luxo, mas ter acessibilidade a uma vida tranquila, sem me privar do que é importante pra mim. São os principais pontos positivos que ficam no topo da lista quando tenho que tomar a decisão de não voltar para meu país”, afirma.
A maior limitação encontrada por Loraine, inicialmente, foi a comunicação. Ela diz que após ter o domínio da língua, a vida ficou mais tranquila. Loraine reconhece que a distância da família e dos amigos é a parte mais difícil dessa escolha, e a baixa temperatura no inverno é algo incomoda.
“Vivendo aqui não posso acompanhar de perto alguns momentos das pessoas importantes para mim, não vejo as crianças crescendo, meus amigos e familiares envelhecendo. A distância machuca bastante”, acrescenta.
A língua facilita o convívio em Portugal
A capixaba Claudia Machado vive há um ano na cidade de Lisboa, em Portugal, e diz que a diferença do fuso horário do Brasil é de duas horas, facilitando sua adaptação no país. Claudia trabalha em uma padaria executando diversas atividades.
“Meu filho pediu para estudar em Portugal, então, viemos para cá. No entanto, não nos planejamos e percebemos que o planejamento é essencial, pois não temos certeza do que vamos encontrar fora do Brasil. As pessoas acima de 35 anos têm mais dificuldade de conseguir emprego. A ausência de segurança é um ponto que conta muito para sair do Brasil. O que facilita viver em Portugal é a língua, porque o idioma é bastante parecido com o nosso. Quem deseja vir para cá, é melhor já ter um emprego certo, um contrato de trabalho facilita muito. O salário-mínimo é baixo. No entanto, o custo de vida não é alto. O aluguel de uma casa é caro. Custa, no mínimo, uns 400 euros. O clima é mais frio que no Brasil e menos gelado que em outros países da Europa. Estou adorando viver aqui. Nos últimos anos a legalização tem sido dificultada por conta da ‘invasão’ de brasileiros, sem cidadania é mais difícil. A diversidade de cultura e nacionalidades é maravilhosa. Não sinto saudades do Brasil, apenas dos amigos, mas a facilidade do mundo virtual ajuda a encurtar a distância. Além disso, minha mãe mora aqui. E, para deixar a vida mais feliz ganhei a sorte grande: conheci um brasileiro maravilhoso e me casei aqui”, diz Claudia.
Vida reconstruída e uma família na Itália
A brasileira Ana Maria Pereira foi para a Italia em 2001, em busca de estabilidade financeira. Na época, segundo ela, a sua situação financeira estava crítica porque era funcionária do Estado e seu salário estava com quatro meses de atraso.
“Outro motivo que me levou partir para a Itália foi aprender a língua que sempre achei bonita e acreditava que a melhor forma de falar fluente era estando no país de origem do idioma. A saudade da família e amigos fazem a gente sentir vontade de voltar atrás. A adaptação é difícil por causa do clima, da comida e do trabalho, que é intenso. É preciso arregaçar as mangas, ser decidida, dedicada e persistente. Sinto muita falta do meu Brasil, imenso, lindo, maravilhoso, quente, onde as pessoas são maravilhosas e acolhedoras. Nosso povo é especial. Não voltaria a viver no Brasil, por causa da violência. Além disso formei minha família, tenho marido e filha, casa própria, trabalho e uma vida bem estável e feliz”.