Essa frase está sendo usada de forma irresponsável, desrespeitando o trabalho de séculos e séculos de pesquisas e descobertas científicas.
Resolvi chamar a atenção para uma frase muito dita hoje em dia e que, sem cuidado, vira uma fonte de desinformação que pode causar prejuízos em muitas esferas: “Estudos comprovam…”. Você sabe o que significa algo comprovado por estudos, por pesquisas científicas? Pesquisas científicas têm o objetivo de provar se algo é como parece ser, ou não. Também serve para descobrir como ocorre um fenômeno, transformação, mudanças. Pode ser para ver como o corpo, a mente, o emocional reage a alguma substância. São muitos os objetivos a serem alcançados com as pesquisas científicas e divulgar resultados é de uma responsabilidade sem igual. Em uma rápida busca por definições, todas as encontradas têm algo em comum: “Será chamada pesquisa científica se sua realização for objeto de investigação planejada, desenvolvida e redigida conforme normas metodológicas consagradas pela ciência” e também “para ser considerado científico ele deve representar uma investigação executada com um método científico e submetida ao exame de um corpo de pesquisadores da área, que irá testar e conferir as informações, a metodologia, os resultados e/ou as conclusões alcançadas”. Pesquisas científicas, para chegar a ter resultados que possam ser compartilhados como algo comprovado, necessitam seguir protocolos oficiais. Em geral, é composta por quatro etapas: pesquisa bibliográfica, coleta de dados, tratamento e análise dos dados, publicação dos resultados em artigos científicos ou anais de eventos acadêmicos. Não é algo que se consegue fazer em algumas semanas, de um notebook, com pesquisas no “dr Google” e “otras cositas mas”. Não mesmo, gente! São anos, às vezes décadas para, por exemplo, desenvolver medicamentos, vacinas, tratamentos alternativos. São necessários muitos investimentos, uma equipe de pesquisadores, locais apropriados, laboratórios, profissionais de várias áreas, grupos de pessoas para os testes e tudo isso custa muito dinheiro. A lisura de todo o processo deve ser garantida e essa fiscalização, feita por órgãos oficiais, também segue normas rígidas.
Vou dar um exemplo de algo que eu entendo e que foi o tema do meu TCC na Neuropsicopedagogia: a importância do sono para o desenvolvimento cognitivo. Busquei na literatura, em artigos científicos, conversei com especialistas e escrevi meu trabalho. Vamos somente por alto descrever como foram as descobertas registradas nas publicações nas quais me baseei: como é uma noite de sono ideal? Como se dá o ciclo do sono reparador? O que acontece com o cérebro enquanto dormimos? Esse efeito é o mesmo em todas as idades? É o mesmo em todos os horários do dia, em todas as regiões, em qualquer clima? O modo com que a pessoa se alimenta antes de dormir interfere no sono? O que a pessoa faz antes de se deitar interfere na qualidade do sono? Como saber? Você imagina que essas e outras conclusões foram obtidas observando umas dez pessoas, fazendo perguntas, anotando as respostas e publicando o resultado do “estudo”? De maneira alguma! As perguntas que fiz aqui são só algumas, e se fossem só elas, seria necessário a observação dessas variáveis em indivíduos de várias idades e por muito, muito, muito tempo. Eu pesquisei resultados de décadas de estudos sérios e confiáveis e resumi. Foi um trabalho fácil o meu, já que todo o esforço foi feito pelos maravilhosos cientistas que estudaram o assunto, seguiram os protocolos e publicaram. Eu posso dizer com propriedade que estudos comprovam que dormir interfere diretamente na aprendizagem da criança.
Pessoas que servem de “cobaias” para testes e pesquisas são chamadas de Grupos de Controle. Elas não se mudam para uma comunidade fechada e ficam à disposição dos pesquisadores, não mesmo. Elas vivem suas vidas normalmente e cumprem as orientações dos pesquisadores para que estes anotem os resultados obtidos ao longo do tempo que for necessário para as conclusões. Nesse meio-tempo, o grupo de controle pode sofrer perdas, mudanças, desistências e isso precisa ser resolvido para não comprometer o trabalho feito até ali.
Você sabia que, quando se trata de desenvolvimento de medicamentos, cosméticos ou outro produto para uso do ser humano é necessário ter dois grupos? Um receberá o produto a ser desenvolvido e o outro receberá um “placebo”, algo que diz ter as propriedades, mas que, na verdade, não tem. Os voluntários da pesquisa não sabem qual está recebendo, tem que ingerir/usar e relatar os sintomas/efeitos. Quanto tempo levará até o produto desenvolvido estar seguro o suficiente para ir para o mercado? Anos, talvez décadas!
Só dei aqui uma “palhinha” do que realmente quer dizer algo comprovado por estudos científicos. Pessoas muito mal-intencionadas estão lançando mão dessa frase na mesma facilidade com que bebem água e os efeitos podem ser devastadores para quem acredita.
Quando se deparar com alguém dizendo isso, faça o seguinte: peça o link da publicação em revista científica para que você mesmo possa ler e aprender o que essa turma de cientistas malucos (no melhor sentido e com muito respeito) está fazendo para melhorar a nossa vida. Estudos comprovam que toda a profissão deve ser respeitada!