PARADOXO DA DEMOCRACIA

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Feliciano e o tiro no pé da democracia

Por Ricardo Pessanha

Para não generalizar e correr o risco de ser criticado por alguém que se identifique com os conceitos de Marco Feliciano, aproprio-me aqui do advérbio “quase”. Quase todas as minorias, as quais ele deveria representar, estão contra ele. O pastor, escolhido como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, hoje representa nada além do preconceito. E, na tentativa de se livrar das críticas e dos protestos que suscitou, atrapalha-se cada vez mais, mostrando que desconhece o significado da palavra democracia, pelo menos aquele em que diz que o poder pertence aos cidadãos e que sua função como parlamentar é de promover a representação da vontade destes.

 

Na verdade, essa é uma questão complexa, visto que, por meio da democracia, por meio da decisão de cidadãos, foi que esse senhor conseguiu se eleger pelo apoio, dado de livre vontade, por pessoas que, agora, algumas delas, não mais se vêem representadas. Mas mesmo aqueles que lhe continuam solidários não representam os brasileiros em sua totalidade, estes sim que esperam representação na tão importante Comissão Permanente. E ele mesmo percebeu isso ao receber as manifestações e acabar por pedir a proibição da entrada de manifestantes na reunião e ao pedir a prisão de um rapaz que o chamou de racista.

Essa é uma dessas situações que podemos classificar como um paradoxo da democracia, um tiro no pé dado e tomado por aqueles que se usam dela para se beneficiar mas fogem dela para não se prejudicar, e que, infelizmente, torna-se cada vez mais de comum observação durante e após os processos eleitorais. O povo ouve o canto da sereia, se imagina representado, mas depois percebe que o ideal está longe de ser alcançado.

Muitos podem dizer que o pastor Marco Feliciano incomoda porque ele diz o que pensa. É fato que todos temos o direito de pensar como quisermos, mas também temos o dever de respeitar o próximo. A partir do momento em que uma opinião constrange, discrimina e traz danos a alguém, ela deixa de ser uma opinião para se tornar uma agressão. E é assim que estão se sentindo muitas minorias brasileiras: agredidas pelo pastor Marco Feliciano. E o povo, em sua maioria, sente-se agredido por ver que, mesmo com tamanha mobilização contra o deputado, ele insiste em se escudar na mesma democracia que feriu ao impor seus valores pessoais a um importante instrumento de representação coletiva.

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