A Revanche
26 de fevereiro de 2011, esta data vai ficar na história. Saímos de Vitória um dia antes para passarmos o fim de semana em Itaúnas. Já estávamos com tudo preparado. Pousada do Cezinha, “Estalagem Vila Tânia”, saída cedinho no sábado para pescar na extensão de Itaúnas, mais propriamente Riacho Doce. Fica há mais ou menos doze quilômetros de onde estávamos.
Tomamos nosso café, ajeitamos o material e lá fomos nós, eu e meu genro Casotti. Após uns 50 minutos naquela estrada no meio dos eucaliptos, começamos a sentir que tínhamos errado o caminho, mais adiante uma placa indicativa de “Costa Dourada” Bahia, resolvemos voltar do meio do caminho e tentar na volta acertar. Achamos algumas placas velhas que nos deram a luz de Riacho Doce e só ficamos mais tranqüilos quando começamos ler placas do Celsão, tais como “Sorria, você está sendo filmado”, “Comida horrível, cuidado”, etc.
Depois de muito penar e atrasar nossa pescaria em mais de hora, chegamos. O caminho, para quem conhece o local, é bem difícil porque sobe um morro de areia íngreme e depois de atravessar este caminho no meio da mata, anda mais um bocado e finalmente chega à praia.
Pois bem, azar pouco é bobagem, estávamos chegando ao cume do morro, já iniciando a descida quando demos de cara com um bando de porcos do mato. Os javalis ficaram nos encarando e eu e Casotti ficamos paralisados. Colocamos as varas na frente dos bichos e como fui lutador de Kung fu, dei o berro característico de Bruce Lee, que acho que foi ouvido até em Itaúnas. Pronto, os porcos selvagens dispararam para o meio do mato, apavorados e meu genro com o susto, já disparava para o carro.
Aí berrei, agora como gente, sem tá cagado, e meu genro parou olhou pra trás e muito cabreiro foi voltando e nos mandamos morro abaixo em direção a praia, onde pelo menos me pareceu ter a respiração voltado de novo.
Com muito custo, ainda tremíamos um pouco, ajeitamos o material e sempre olhando pra trás, fomos pouco a pouco voltando ao normal e rindo da situação, sabe Deus como.
Ao fisgar o primeiro pampinho, o susto foi embora e começamos a pegar berés típicos daquela praia, e lá do céu um gavião enorme passeava dando piados agudos. Quando resolvemos ir embora, aí que aconteceu uma coisa que ninguém acredita. Ainda bem que tenho meu genro de testemunha apesar de mais uma vez esquecermos a maldita máquina fotográfica.
Na recolhida final, minha vara embodocou, dei a fisgada e comecei a puxar um belo espécime de peixe, que vi se tratar de um robalo pelo pulo que deu fora d’água. Fiquei tenso, e para não perdê-lo usei todos os truques de um bom pescador. Ao tirar o dito d’água e arrastá-lo pela areia, quase cai duro de susto quando o gavião num vôo rasante grampeou as garras no robalo e resolveu me roubar o dito, alçando vôo instantaneamente, com o peixe em suas garras.
A chumbada subiu vertiginosamente e fiquei com o pássaro no ar tentando levar o peixe e eu segurando com força da areia, com a vara envergada e o bicho preso no ar. O gavião parecia um beija-flor, parado batendo as asas e eu segurando, puxando a linha e naquela luta nos encaramos. O desfecho final foi que fiquei com a boca do robalo presa no anzol e o peixão foi-se embora nas garras do pássaro balançando no ar, e ainda ouvi do desgraçado do gavião aquele piado de deboche.
Calculei que seria difícil, muito difícil o pessoal acreditar, mas levei a boca como prova, para mostrar que não estava mentindo e sempre na narrativa perguntava ao meu genro “È mentira, Casotti? Não foi verdade?”.
O importante é que da próxima vez que for pescar nesta região, vou armado para comer javali a pururuca e gavião ao molho pardo, do pescador de praia Deomar Bittencourt.
Sobre o autor:
Dr. Deomar Bittencourt, atuou como professor de Parasitologia na FAFABES por trinta anos. Atualmente, se dedica às análises técnica e laboratorial no laboratório que leva o seu nome e é referência na Grande Vitória.