Falamos tanto em Inclusão de crianças com deficiências e excluímos suas mães.
Mais um Dia das Mães chegando, o tempo está voando! Sério que vamos ser inundados de propagandas totalmente montadas sobre o quão maravilhosa a mãe vai ficar se usar aquele sabonete, aquele perfume, ter aquela bolsa…? É sério mesmo que, depois de tantos anos, debates, estudos, gritos e gritos de cansaço e desespero, ainda romantizamos a maternidade como se estivéssemos no século passado? Lidar com mãe de comercial é lindo, mas exigir que a vida real imite a arte, é cruel.
Lidando com centenas de mães de crianças com deficiências pude concluir o quanto as excluímos quando achamos que estamos enaltecendo, elogiando, “dando força”. Estou falando das que são chamadas de “mães especiais”, as que tem filhos com alguma deficiência. Quero dar um grito simbólico aqui: ELAS NÃO SÃO GUERREIRAS! Parem, por favor! Parem de colocar essas HUMANAS em um pedestal de heroísmo, onde são obrigadas a ficar ou serão chamadas de loucas, frescas, dramáticas, desequilibradas, preguiçosas ou outra pérola qualquer, totalmente dispensável! Deixe essas mulheres lutarem suas batalhas por seus filhos sem ter que fingir que não são humanas, sem engolir choro atrás de choro, sem poder mostrar que não sabe o que fazer e só quer ficar quieta! Todo mundo tem momentos de querer chutar o balde, mas não pode, então se recolhe um pouco e fica quieto, só isso!
Você, mãe de criança típica, me responda uma coisa: quando sua criança nasceu um dos seus maiores medos não era morrer antes de ela conseguir, ao menos, “se virar”, “se defender” …? Pois, tenho uma notícia para você: para algumas mães da nossa geração, esse medo é eterno, pois, por mais que aquela criança evolua, muitas serão dependentes de alguém pelo resto da vida! Imagine se essas mães têm um dia de descanso e tranquilidade reais na vida? Não têm!
E não estou falando isso para que tenham piedade, elas não estão pedindo isso. Estou querendo propor uma reflexão: nem 8 e nem 80, nem pena e nem exaltação, apenas humanidade. Tenhamos sabedoria, empatia, bom-senso e educação (incrível ter que pedir isso, mas é preciso). Olhem, antes de tudo, para a mulher, para o ser humano que está ali, com uma criança com deficiência e, claro, deve estar cansada, preocupada, angustiada. Ela não precisa que você diga “Deus te escolheu porque sabe que você é capaz”, ou “você é mãe especial e Deus te deu um anjo”, ou ainda “você é mesmo muito guerreira, é especial, é extraordinária, é de outro planeta…”. Não é! Não são! Nunca foram!
Ser mulher, mãe, esposa, dona de casa, profissional, já exige um esforço hercúleo, imagina dar conta de tudo isso e ainda com uma criança que tem transtornos ou deficiência?! É toda essa carga acrescentada de terapias, SUS, exames, luta por direitos, briga por inclusão, briga por discriminação, luta, luta e mais luta e, de brinde, a preocupação eterna “quem vai cuidar da minha criança quando eu morrer?”.
Mães “especiais” geralmente andam “em bando”, só interagem entre elas, só falam de terapias, de progressos, de medicamentos, de médicos, de preocupações com o futuro de seus filhos. É como se elas mudassem de gênero e não tivessem mais possibilidade de interagir com mães “típicas”. Seu grupo de interação muda e os assuntos são sempre os mesmos.
Por favor, gente, eu sei que a maioria nunca se deu conta disso, mas agora estou falando pra vocês: deixem as mães serem, antes de tudo, mulheres! Não tratem elas como se fossem de outro planeta ou personagens de filme de ação. A gente ri das coisas que crianças típicas fazem, ouçam as histórias dessas mães “especiais” e, se forem engraçadas, riam, deem gargalhadas! Pergunte como foi o dia, convide para um café, para um cinema. Sabe aquele seu encontro com as amigas? Não pense que aquela sua amiga, que teve uma criança com deficiência, não quer participar. Se você já tiver chamado e ela negou, insista! Pergunte o que a impede, pode ser que nem ela mesma se sinta segura em sair de deixar a criança com o pai, com a avó, mas aos poucos ela vai se soltar, vai tentar, vai conseguir. Chame, insista, diga que o encontro vai ser na casa dela, cada uma leva um prato e ela faz o café! Não falem de filhos, falem besteiras, deem uma voltinha num shopping, olhem “os homi bunito” passando, visitem uma sex shop, comam chips, tirem fotos, deem risadas, vivam… Elas também não têm muito tempo, nenhuma mulher depois que vira mãe, tem. São saidinhas mesmo, iguais às que você faz com suas outras amigas. Inclua as mães “especiais”, pelo simples fato de que elas, assim como você, também precisam de um tempinho de vez em quando, para desanuviar a cabeça, desopilar o fígado. Procurem no Instagram o perfil de Celeste Barber, ela reproduz fotos e vídeos feitos com modelos, mostrando que a realidade é bem diferente. Cada postagem me arranca muitas risadas.
Pense nisso e faça, colega, dê um “oi” para aquela amiga que é “mãe especial” e se reaproxime, te garanto que não haverá presente melhor!
Feliz dia das mães para todas as mulheres humanas!