De olho nos diagnósticos
O Transtorno Obsessivo Compulsivo é um quadro comportamental que teve relevância no Brasil a partir do cantor Roberto Carlos. Até então, antes mesmo do cantor ter se declarado portador do TOC, recebia em minha clínica poucos pacientes com este diagnóstico. Lógico que esta é uma percepção cotidiana e que costumo citar, para deixar claro ao leitor, que existe um modismo no Brasil em torno dos diagnósticos comportamentais na saúde emocional. Parece que vivemos por épocas de diagnósticos. Houve um tempo que tudo era esquizofrenia, depois veio a depressão. Com o Roberto Carlos o TOC e mais recentemente a Síndrome do Pânico e Transtorno Bipolar, por conta de algumas estrelas globais. Nosso tempo é da bipolaridade.
Se você verificar no DSM – IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que é o código internacional das patologias emocionais, observará que em todas as patologias ali registradas, que são centenas, temos uma lista de comportamentos esperados para cada quadro para ajudar o diagnosticador, médico ou psicólogo, a identificar pelo menos três itens no paciente para poder enquadrar o sujeito em determinada patologia. O problema é que ao lermos cada patologia vamos observar que todos nós nos enquadraríamos em quase todas elas. Tirando o meu exagero provocativo, “no fundo” é mais ou menos assim.
Se o Profissional de Psiquiatria ou Psicologia, ou qualquer outro profissional de Saúde na posição diagnóstica não tiver um bom manuseio sobre os sintomas para verificar se, de fato, a queixa inicial do paciente está levando à perdas do contato com a realidade ou mesmo de perceber se sua realidade cotidiana está sofrível, passará a taxar o sujeito do que ele não é, descarregando uma série de medicações psiquiátricas sem de fato ter clareza do sintoma.
Fico com “um pé atrás” quando recebo pacientes taxados com algum transtorno emocional e com uso intensivo de medicação tendo passado por uma única consulta médica com um tempo rápido de atendimento, na maioria das vezes, apena uma consulta de minutos, fator muito característico nos atendimentos de saúde pública e convênios. Sabemos que o profissional ético não vai atender mais rápido apenas porque o paciente é destas duas vertentes de atendimento, mas infelizmente esta postura ética é o que estamos vendo desaparecer dos atendimentos clínicos.
Fico muito feliz quando recebo pacientes encaminhados por profissionais de saúde, principalmente Médicos Psiquiatras que após atenderem o paciente solicitam uma melhor avaliação psicológica para estabelecer troca de informações profissionais. O bom diagnóstico leva tempo para ser definido, e uma boa relação interdisciplinar pode evitar taxar o sujeito com esta ou aquela patologia.
Lógico que o ideal está distante do real, principalmente neste nosso país que falta até medicação básica para a saúde pública, e onde os profissionais que atuam com critérios técnicos mais apurados muitas vezes não estão mais na saúde pública ou nos planos de saúde. Assim, por falta de recurso e tempo, o profissional, diante do desespero do paciente e da família, principalmente quando há sintomas bem desestruturados, necessita entrar com uma intervenção medicamentosa de emergência.
Diante desta forma de diagnosticar no Brasil, podemos afirmar que os pacientes que chegam com um diagnóstico definido da patologia carregam o conceito muito impregnado na auto-imagem de que são doentes e que portam algo que não tem cura.
Mas na verdade, todo transtorno emocional pode evoluir sim para uma cura, sabendo que o caminho é lento, cheio de altos e baixos até chegar num ciclo de estabilidade comportamental em que o paciente já consegue lidar com suas emoções e sintomas com clareza dos motivos pelo qual surgiu o sintoma e como lidar com suas percepções.
Um tratamento emocional precisa ser pautado na perspectiva de um começo meio e fim, do contrário não podemos dizer que é um tratamento.
Haverá casos em que, ao longo do tratamento, os profissionais vão observando que o quadro emocional está dentro de um perfil em que já faz parte da estrutura emocional e com isso torna-se característico de um paciente que deverá estar em contínuo processo de suporte e manutenção medicamentosa e terapêutica. Mas dizer que em apenas um início de tratamento o paciente é portador de um transtorno emocional definitivo é subjugar os avanços da neurociência para a configuração de medicações eficazes para tratamento e também a ampla produção científica e de resultados das psicoterapias vinculadas à teorias e técnicas convalidados pelo meio científico e pelos sistemas conselhos de representação das categorias profissionais, como é o caso do CFP ( Conselho Federal de Psicologia) e CFM (Conselho Federal de Medicina).
Por tudo isso, insisto em dizer que TOC tem cura. Na minha prática clínica tenho a estatística de 42% de alta terapêutica, que é a saída total da medicação e posterior desmame terapêutico.
*Gerson Abarca é Psicólogo psicoterapeuta graduado pela UNESP/SP – 1990. Escritor pela Ed. Paulus. Atua na cidade de Vitória em psicoterapia de base psicanalítica para crianças adolescentes e adultos. Mentor do site: abarcapsicologo.com.br. Mais informações no telefone (27) 99992-0428 e no endereço: Rua Eugênio Neto, 488 – Ed. Praia Office – Sala 1001, Praia do Canto ( Ao lado da Igreja Sta Rita).
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Preciso de exterminar de vez p todas com o toc
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