Um caminho para trabalhar a intolerância e o adoecimento das pessoas
Afeto, família, intolerância, frustrações, renúncia, drogadicção e escolhas, são alguns dos temas abordados no livro ‘Intolerância e Adoecimento’, escrito pelos psicanalistas José Aledi e Rosa Dulce.
José Aledi é formado em Filosofia e Teologia. Atuou como padre durante 28 anos na Arquidiocese de Vitória (ES) e por 24 anos trabalhou como professor de Teologia Moral e Ética, no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória (IFTAV). A partir de 2008 passou a se dedicar ao estudo da psicanálise. Segundo ele, o livro é reflexo da percepção de que o ser humano está ficando mais intolerante às situações corriqueiras do dia a dia, ocasionando em frustrações, aborrecimentos, contrariedades, entre outras condições.
“O ser humano não tem o controle de todas as situações, se tornando frágil e inseguro. Por consequência, ele busca a autodefesa e se protege atacando o outro, ficando humanamente empobrecido e adoecido. Muitas delinquências e doenças nascem por conta da intolerância. Em psicanálise, conforme mostramos no livro, o grande instrumento é fazer com que o ser humano olhe para si. É necessário buscar o autoconhecimento sem ter medo, nem vergonha do que poderá perceber em si, para que consiga mais autocontrole e autodomínio. A partir do momento que eu me conheço, me compreendo e aceito como sou, cessarei minha projeção em outra pessoa. Ficarei mais leve, mais saudável, menos agressivo, mais tolerante, usarei menos drogas, beberei menos, fumarei menos, viverei melhor” conta.
A psicanalista Rosa Dulce é professora de português, terapeuta familiar, leciona na Escola Freudiana de Vitória e busca compreender melhor os mistérios da vida, da morte, da loucura e das diferenças individuais. De acordo com ela, a psicanálise a levou a perceber que através da fala, o sujeito é capaz de mostrar o que pensa e também o que não pensa, e curar-se dos males da alma. Com consequência do estudo, da prática clínica e da troca com outros psicanalistas resolveu escrever, junto com seu amigo Aledi, sobre as causas do descontentamento, da infelicidade e da intolerância das pessoas.
“Percebemos que a psicanálise pode ser um caminho para trabalhar esse indivíduo intolerante, adoecido, com a capacidade de construção de uma nova perspectiva de vida, fazendo com que respeite o que vai contra os seus desejos, criando recursos para lidar com as frustrações e possibilitando o amadurecimento necessário para se tornar um sujeito mais autônomo, fortalecido, maduro e saudável. A análise pessoal é uma forma de o indivíduo buscar ser mais tolerante e mais feliz. Essa obra fala sobre a importância da família para a subjetivação desse ser. O sujeito, sendo amado, desejado antes de nascer, aceito depois que nasce, recebendo carinho e atenção, não sofrerá tanto, quando encarar os problemas diários. No entanto, não tendo isso na família, ele será ainda mais intolerante”, informa Rosa.
Segundo Aledi, o livro aborda sintomas atuais como isolamento, depressão, neurose obsessiva, drogadicção e violência. De acordo com o psicanalista, o homem tem dado mais valor a objetos e despreza o ser humano, invertendo valores.
“Trabalhamos todos esses aspectos baseados nos princípios da psicanálise no livo, ela tem condições de melhorar toda essa situação que encontramos em muitas pessoas, atualmente. A vida é feita de escolhas e cada uma delas reflete em consequências. Escolhemos o que vestimos, o que comemos, o caminho que percorreremos. As pessoas têm pouca consciência das consequências de suas escolhas e menos condições de gerenciar essas consequências. Isso é algo que fragiliza o ser falante, vulnerabilizando-o e fazendo com que tenha menos condições de renunciar. Como ninguém deseja renunciar mais nada, o egoísmo reina. Essa é uma das questões importantes que tratamos no livro e que vem como grande instrumento de construção de um novo ser humano. As pessoas estão tão vulneráveis e fragilizadas, que buscam um meio de se mostrar, de ser aceito pelo outro, como ocorre nas redes sociais, com postagens de algumas fotos ou mensagens”, afirma.
Aledi destaca que no final do livro os autores falam da experiência de um sujeito toxicômano, que conta sua história, fala da ausência de carinho na infância e do desprezo de sua mãe durante a gestação, fazendo com que ele encontre conforto nas drogas.
“Observamos que os jovens estão numa linha dentro ou fora do que é permitido, podendo se perder nesse caminho, vivendo numa estabilidade com a busca de esportes radicais, ou outra atividade que coloca suas vidas em risco. Buscam a morte, o sofrimento e o perigo, de forma inconsciente. Os drogadictos falam que os mais respeitados são aqueles que chegaram mais perto da morte, para mostrar ser o mais ‘forte’, o mais ‘corajoso’”, conclui.
A publicação é um grande alerta para as famílias e destaca a importância do afeto nas suas relações.
O livro ‘Intolerância e Adoecimento’ está a venda na Associação Capixaba de Psicanálise (ACAP), situado à rua Milton Ramalho Simões, 130, Edifício Simone – Jardim Camburi. Informações: (27) 99843-4612 e (27) 99831-5210.